O <i>pin</i>

Margarida Botelho

De há al­gumas se­manas para cá vá­rios mem­bros do Go­verno os­tentam na la­pela um pin com a ban­deira de Por­tugal. O pri­meiro-mi­nistro não o larga, Mi­guel Relvas apre­sentou-se com um na en­tre­vista à TVI e pa­rece que a moda até já se es­tendeu ao apre­sen­tador Jorge Ga­briel. O banco Mil­le­nium, sempre bem sin­to­ni­zado, ofe­rece “fitas do or­gulho” de ser por­tu­guês para usar no pulso.

Não deixa de ser sin­to­má­tico. Numa al­tura em que PSD, CDS e PS se aco­to­velam para levar mais longe a sub­missão ao pacto de agressão, em que se pre­param para vender a quem der menos em­presas e sec­tores es­tra­té­gicos na­ci­o­nais (até ao sub­solo!), para roubar o povo para en­tregar aos grandes grupos eco­nó­micos, para ir des­truindo o Ser­viço Na­ci­onal de Saúde, para re­duzir a es­cola pú­blica ao ler e contar do fas­cismo, lá vão eles, de ban­dei­rinha ao peito, a tentar en­ganar os in­cautos.

Porque esta gente não faz nada por acaso, de cer­teza que al­guma agência de co­mu­ni­cação ex­plicou ao Go­verno que o povo por­tu­guês tem or­gulho no seu país e gosta pouco de se ver no papel em que o querem pôr: de mão es­ten­dida às grandes po­tên­cias da União Eu­ro­peia, de ore­lhas baixas aos ra­lhetes dos grandes ban­queiros, bom aluno de tudo o que é mais atra­sado na hu­ma­ni­dade. E por­tanto fi­zeram a única coisa que lhes resta fazer: pôr o pin na la­pela, à ma­neira de em­blema de clube, e es­perar que o povo os tome por pa­tri­otas.

Mas pa­tri­otas são os mi­lhões de por­tu­gueses que não aceitam o rumo que nos querem impor. Pa­tri­otas são os tra­ba­lha­dores que par­ti­ci­param nas cen­tenas de ac­ções da se­mana de luta de CGTP. São os utentes e pro­fis­si­o­nais de Saúde que não ad­mitem a des­truição dessa con­quista que é o Ser­viço Na­ci­onal de Saúde e de­nun­ciam cada en­cer­ra­mento, cada corte, cada en­fer­meiro e cada mé­dico em falta. Pa­tri­otas são os es­tu­dantes, os pro­fes­sores, os pro­fis­si­o­nais de edu­cação, que de­fendem a es­cola pú­blica, gra­tuita e de qua­li­dade. Pa­tri­otas são os pro­fis­si­o­nais de se­gu­rança, os mi­li­tares, os agri­cul­tores, os micro, pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios que juntam a sua voz à cor­rente de con­tes­tação contra o Pacto de Sub­missão. Pa­tri­otas são os que lutam por um Por­tugal com fu­turo.



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